terça-feira, 8 de abril de 2008

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A ecologia da informação

Comunicação
A ecologia da informação

Anjee Cristina

para revista Lótus

A qualidade de vida das populações depende da qualidade do meio ambiente em que vivem. E, para proteger e gerir o ambiente em que vivem, as populações precisam ter acesso à informação qualificada.

Com o objetivo de fortalecer o acesso à informação e a participação popular na política ambiental, estão sendo realizadas em Brasília oficinas de capacitação para representantes de organizações não governamentais e movimentos sociais de todas as regiões e biomas do País, numa iniciativa do Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS).
As oficinas estão promovendo o levantamento e a avaliação dos canais de informação e de participação ambiental existentes, para construir ferramentas que possibilitem uma atuação mais qualificada do terceiro setor.
A discussão não é apenas ambiental, mas também desenvolvimentista, econômica e política, porque tudo está interligado e o debate deve ser transversal. Não se trata de inventar algo novo, e sim de utilizar o que já existe: um dos grandes anseios do movimento ambientalista é a capacidade de utilizar as informações e os instrumentos disponíveis, pois a legislação ambiental brasileira e a política nacional de meio ambiente são das mais avançadas que existem no mundo, mas os governos desenvolvimentistas não as cumprem e procuram desmontá-las, destaca Ivan Marcelo Neves, secretário executivo do FBOMS

Em função da inoperância da máquina governamental, o terceiro setor vem cumprindo lacunas da ação do estado, e algumas ongs possuem poder de realização bastante significativo, já constituindo instituições de fomento. O secretário do FBOMS defende esse avanço da participação da sociedade civil na gestão ambiental ressaltando que vivemos uma situação esquizofrênica. A sociedade é ao mesmo tempo artífice e vítima de um modelo excludente e predatório de desenvolvimento econômico que insiste em manter na prática, apesar do discurso teórico da preservação ambiental. Compartilhamos um sistema baseado na produção ilimitada a partir de fontes finitas de matéria prima, e nosso comportamento esquizofrênico só poderá ser revertido através da informação e da educação.

Guerra midiática
Mas, como acessar a informação qualificada? Atualmente, existe um véu de ignorância, uma verdadeira caixa preta em torno da informação, que se tornou objeto de controle, monópolio e manipulação por parte dos meios de comunicação de massas, alerta Rui Kureda , coordenador das oficinas de acesso à informação e participação social do FBOMS.

As ongs sócio-ambientais seguidamente levantam questões e promovem ações que não encontram repercussão na mídia, a não ser que se utilizem de estratégias sensacionalistas. Um exemplo é a luta que se trava há 20 anos no Vale do Ribeira, em São Paulo, contra a construção de barragens que prometem expulsar da região as populações locais. Essa luta não vinha encontrando visibilidade na imprensa até que os movimentos sociais ocuparam o prédio do IBAMA em São Paulo, relata Rui Kureda. Ele acredita que, para superar o descaso da grande mídia com a qualidade de vida das populações e a preservação do seu meio ambiente, faz-se necessário buscar formas alternativas de comunicação e criar canais próprios de informação.

Não por acaso, essa estratégia encontra ressonância nas ações que estão sendo realizadas pelos próprios comunicadores sociais. No último mês de março foram realizados em São Paulo e Porto Alegre encontros históricos entre jornalistas, professores e alunos de universidades, blogueiros, ongueiros e representantes de movimentos sociais. Na pauta dos encontros, que prometem prosseguir em outras capitais brasileiras, está a criação de uma espaço nacional de articulação para promover o fortalecimento de uma mídia livre no Brasil, com a democratização da produção e do acesso à uma comunicação de qualidade.

Os participantes desses encontros querem transformar o atual cenário midiático brasileiro, marcado por um crescente processo de concentração e apropriação de bens e serviços públicos por alguns poucos grupos privados atrelados à grandes corporações internacionais que priorizam os interesses econômicos em detrimento dos verdadeiros valores humanos. Destacam que existe atualmente uma “guerra da informação”, em que de um lado está o cartel da comunicação formado pelas grandes corporações que atuam de forma hegemônica, e de outro lado um mosaico de iniciativas pequenas e dispersas, que necessitam de espaços de aglutinação para preservarem a própria especificidade e a diversidade do meio em que atuam.

Um cenário de luta e contraposição que também se verifica em outros setores, pois atualmente cada vez mais se alarga a brecha entre o novo mundo que se quer construir e o velho mundo que se precisa largar. Não poderia ser diferente em se tratando da informação: para uma nova humanidade, há que se criar uma nova comunicação.

Fonte: Rede 3Setor
Anjee Cristina
(belaspalavras@yahoo.com.br)

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