No apagar de 2008 UFRJ e Petrobras invadem e devastam a Escola de Educação Física e Desportos
Leandro Nogueira
Observatório da Universidade
ANO II
www.observatoriodauniversidade.blog.br
Em uma atitude ditadorial e francamente lesiva à autonomia universitária, ao patrimônio público e ao meio ambiente, além de perpetrada logo ao final do atual período de atividades acadêmicas, quando é reconhecidamente reduzida a mobilização de alunos e professores, a Administração Superior da UFRJ e a Petrobras invadiram e devastaram uma área com cerca de 30.000m², pertencente à Sede Campestre da Escola de Educação Física e Desportos, situada no campus da Ilha do Fundão.
Como resultado da violenta intervenção, foram destruídas uma quadra de tênis e duas quadras poli-esportivas, arquibancadas, postes de iluminação, alambrados e árvores que haviam sido plantadas por estudantes e professores da EEFD no final da década de 60 e início dos anos 70, entre outros investimentos que ainda não foram completamente apurados.
Sabe-se ainda, que a pista de atletismo da unidade, de dimensões olímpicas, também está ameaçada, por estar distante 10 (dez) centímetros de uma grande e inacreditável cerca ali instalada.
No FOTOBLOG do OBSUNI (http://www.observatoriodauniversidade.blog.br/ImageGallery/ImageList.aspx?id=9ca48317-bef6-4974-83a6-daa6ba408d26&m=1&c=f307277c-7c4d-4823-8266-13d5d99b0ce8
), podem ser vistas algumas fotos disponibilizadas pelo Prof. Waldyr Mendes Ramos, Diretor da EEFD, dando conta da paisagem da Sede Campestre, antes e após a mencionada devastação.
Até o presente momento, nenhum grupo dirigente da UFRJ ou da Petrobras assumiu a responsabilidade pela nefasta intervenção, que segundo o Prof. Waldyr, não foi autorizada pelo CONSUNI ou qualquer outro colegiado deliberativo da UFRJ.
Segundo informações ainda incompletas, o Diretor da EEFD soube que a invasão e destruição das instalações da Sede Campestre, teriam ocorrido para dar lugar à construção de uma subestação de força do CENPES, Centro de Pesquisas da Petrobras.
Contudo, mesmo se confirmado esse motivo, o Comitê Técnico do Plano Diretor UFRJ 2020, o CTPD, que vem realizando reuniões semanais desde setembro último para a discussão de diretrizes e propostas, também não foi consultado, segundo o Prof. Waldyr, ele próprio membro do referido comitê.
Destaque-se ainda, que o Diretor da EEFD já havia enviado memorandos para o Prefeito da Cidade Universitária da UFRJ, Prof. Hélio de Mattos Alves, e para o Magnifico Reitor, Prof. Aloísio Teixeira, informando de sua preocupação quanto à movimentação clandestina do CENPES nas instalações da Sede Camprestre da UFRJ.
Nos referidos documentos, o Prof. Waldyr alertou que a área em questão era utilizada para aulas dos Cursos de Graduação da EEFD, além de integrar um dos módulos do Complexo Integrado de Atividade Física (CIAF), cujo projeto de implantação foi apresentado em palestra proferida pelo Prof. Armando Alves de Olivera e sua equipe da Coordenação de Esportes da EEFD, no último Seminário de Políticas Públicas de Esporte e Lazer, em Brasília.
O CIAF vem encontrando boa receptividade entre as autoridades do esporte brasileiro que têm visitado a EEFD, dentre elas, mais recentemente, o Secretário de Esporte de Alto Nível do Ministério dos
Esportes, Prof. Djan Madruga. Sua implantação prevê inclusive a construção de um Estádio de Atletismo , que encontra-se agora ameaçada em razão da invasão do CENPES.
Diante do ocorrido, o Prof. Waldyr comunicou o seu afastamento do CTPD, solicitando rigorosa apuração para indicação de responsabilidades, além da recomposição das instalações destruídas,
tendo também encaminhado uma Moção de Repúdio ao Ato da Administração Superior da UFRJ, aprovada por unanimidade pela congregação da referida unidade acadêmica, na reunião ordinária de quinze de dezembro ultimo, em virtude da cessão indevida de espaços nobres da EEFD.
O episódio em questão aponta de forma emblemática, para dois graves problemas com repercussões nada promissoras para a sociedade brasileira.
O primeiro deles tem a ver com o crescente descaso da Petrobras, para aquilo que o próprio mundo corporativo convencionou chamar de
"responsabilidade social".
Sob um controle social cada vez menos efetivo, a empresa estatal que foi fundada para a prospecção e a produção da riqueza nacional, em um dos setores mais estratégicos para o país e tendo em vista o alcance dos valores mais caros ao povo brasileiro, opera cada vez mais como um leviatã corporativo completamente focado na acumulação incessante, irrestrita e insana do capital, para o deleite insaciável e exclusivo de um punhado de grandes investidores e acionistas.
Vale lembrar que a Petrobras foi retirada em novembro ultimo, da carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), divulgada pela BM&F Bovespa. A exclusão ocorreu após questionamento de organizações ambientalistas e dos governos de São Paulo e Minas Gerais, pelo fato de nossa gigante estatal ter se recusado a cumprir
uma norma federal que a obrigava a vender óleo diesel mais limpo.
A norma descumprida, constava da resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a qual determinava que a partir de janeiro de 2009, o diesel distribuído no país deveria ser substancialmente mais limpo.
Hoje, o diesel no interior possui 2.000 ppm (partes por milhão) de enxofre, e o das regiões metropolitanas, 500 ppm. Se a resolução fosse respeitada, deveria ser abaixado para 50 ppm.
Ora, se a Petrobras não se importa com a qualidade do ar respirada pelos brasileiros, nem tampouco hesita em chutar o pau da barraca da sustentabilidade empresarial erguida pelo cassino de valores paulista, porque a empresa se importaria em invadir e devastar a área de uma universidade pública federal, como se ali estivesse instalada apenas a morada da Mãe Joana?
Afinal de contas, se as informações forem confirmadas, a subestação de força a ser construída na área da EEFD, atenderia à ampliação do CENPES de forma a transformá-lo de maior centro de pesquisas da América Latina, em um dos mais expressivos complexos de pesquisa aplicada do mundo.
Especula-se que tal expansão não serviria apenas para aprimorar a gasolina usada pelos carros de Fórmula 1, certamente um nobilíssimo
objetivo social, mas a própria obra, acredite-se ou não, perseguiria a
obtenção das principais certificações de eco-eficiência vigentes no mundo, desde a francesa Haute Qualité Environnementale (HQE) à norte-americana Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), empregando, entre outras técnicas, a captação de água de chuva e ventilação e iluminação naturais.
Fonte: Rede 3Setor
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